Sífilis congênita matou mais de 2,4 mil bebês em sete anos
Transmissão na gestação pode ser evitada com tratamento
Saúde|Da Agência Brasil

A sífilis congênita, transmitida para os bebês durante a gestação, pode dobrar o risco de mortalidade até os 2 anos de idade. Entre 2011 e 2017, causou 2.476 mortes de bebês e crianças. Os dados, divulgados nesta terça-feira (18) pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), foram levantados por pesquisadores de diversas instituições e resultaram em um estudo publicado na revista científica PLOS Medicine.
A transmissão da mãe para o bebê durante a gestação pode ser evitada com tratamento, e um alto índice de sífilis congênita é indicador de deficiências na rede da assistência. O rastreamento da sífilis durante a gestação é considerado simples, com realização de teste durante o pré-natal, assim como o tratamento, que precisa se estender ao parceiro ou parceira sexual da mãe para evitar que ocorra reinfecção.
Segundo o estudo, foram registrados 93.525 casos de sífilis congênita no país entre 2011 e 2017, que causaram 2,4 mil mortes, sendo a maior parte no primeiro ano de vida. Entre as crianças diagnosticadas, 17,3% nasceram prematuras, 17,2% com baixo peso ao nascer e 13,1% eram pequenas para a idade gestacional.
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Os pesquisadores alertam que o número de casos aumentou depois do período estudado, chegando a 27.019 apenas em 2021, segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Além disso, eles suspeitam que pode haver subnotificação, porque o levantamento encontrou óbitos por sífilis congênita que não tinham sido notificados.
Desigualdade
O estudo mostra que, entre os mais de 93 mil casos de sífilis congênita diagnosticados no período estudado, 65,59% receberam tratamento incompleto durante a gravidez, e quase 30% das mães não teve o a nenhum tratamento.
A incidência da doença afeta sobretudo a população mais vulnerável, com taxas mais altas entre filhos de mulheres jovens, pretas e pardas e com poucos anos de escolaridade. Entre as mães que não receberam tratamento adequado, 44,84% frequentaram a escola por menos de 7 anos e 76% eram pretas ou pardas.
Doença silenciosa
A pesquisadora Enny Paixão, associada ao Cidacs/Fiocruz Bahia e à LSHTM (London School of Hygiene & Tropical Medicine), liderou o estudo. Ela explicou que a maioria dos bebês é assintomática ao nascer ou apresenta sinais e sintomas inespecíficos. No grupo pesquisado, aproximadamente 10% das crianças tinham sintomas registrados, sendo os mais comuns a icterícia (coloração amarelada da pele, olhos e mucosa), o aumento do tamanho do fígado e a anemia.
Outra dificuldade para o diagnóstico do bebê é que não existe teste laboratorial confiável que identifica bebês assintomáticos no nascimento. Com isso, os bebês podem ficar sem o ao tratamento necessário para mitigar as consequências da infecção em sua saúde, até que algum sintoma apareça.
A pesquisa acompanhou dados de 20 milhões de crianças nascidas no país, por meio do Sinasc (Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos), do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade) e do Sinan-Sífilis (Sistema de Informação de Agravos de Notificação ). Participaram do trabalho o Cidacs/Fiocruz Bahia (Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde), o Isc/Ufba (Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia), o Instituto de Matemática e Estatística da Ufba, aa London School of Hygiene and Tropical Medicine, o Cefet-MG (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais), e a Ensp/Fiocruz (Escola Nacional de Saúde Pública).