‘Ir para o Corinthians foi minha punição. Zagallo perdeu a Copa de 74 porque teve medo de escalar seis do Palmeiras.’: O ídolo César Maluco
O maior artilheiro das academias do Palmeiras. Deu uma rara entrevista. Sincero até demais, não esconde detalhes da carreira brilhante, e pouco valorizada. Conquistou cinco Brasileiros. Não é valorizado como deveria. ‘Sou ídolo. Mas o tempo ou. O Brasil não tem memória’
Cosme Rímoli|Do R7

Leão, Luís Pereira, Alfredo, Ademir da Guia, Leivinha e César Maluco.
Esses foram os seis jogadores, que atuavam no Palmeiras bicampeão brasileiro de 1972/1973.
E que foram para a Alemanha, disputar a Copa do Mundo de 1974.
Eles tinham convicção que atuariam juntos, formariam a base da Seleção na busca do tetracampeonato.
“Era a coisa mais lógica a fazer. Como tinha acontecido com o Santos e Botafogo, nos Mundiais de 58 e 62. Mas o bairrismo pesou. O Zagallo preferiu fazer média com o Rio de Janeiro. O Brandão, que era treinador do Palmeiras, me falou na Alemanha: volta para o Brasil, porque você não vai jogar. Só o Leão e o Luís Pereira vão ser titulares. Não querem que o Palmeiras ganhe o tricampeonato brasileiro. Eu deveria ter voltado, ir embora”, desabafa, César, em entrevista exclusiva.
Aos 80 anos, ele não tem nada de maluco. “Detestava esse apelido. Foi o José Geraldo de Almeida, narrador famoso, na década de 60, quem deu. Porque eu gostava de comemorar meus gols subindo no alambrado, com os torcedores. Eu sempre fui uma pessoa alegre, expansiva. Queria a celebração, a emoção do gol.” César teve o privilégio de jogar nos dois fantásticos times do Palmeiras que mereceram o apelido de Academia.
“Era muito talento junto. Primeiro, Valdir de Morais, Djalma Dias, Djalma Santos, Julinho, Ademir, Servílio, Tupãzinho, eu. Depois, Leão, Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir; Edu, Leivinha, César e Ney. Juntou talento, dedicação, treinamento sério e entrosamento. Sabia, sem enxergar, a movimentação do time. Como a bola viria para eu concluir. Sou o maior artilheiro vivo da história do Palmeiras, com 194 gols.”
Faria mais, se não fosse suspenso por 11 meses, ao tentar dar cabeçada em um árbitro.
Só fica atrás de Heitor, com 323, que jogou entre 1916 e 1931.
Carioca de Niterói, César chegou ao Palestra Itália por empréstimo do Flamengo. Foi muito bem. O time carioca o quis de volta. Só que o Palmeiras decidiu comprá-lo. Insistiu e o trouxe para ficar. Foram, no total, oito anos com a camisa verde. Ganhou cinco Brasileiros. Dois Paulistas. É um grande ídolo.
“Eu sempre gostei muito de viver. Morava no hotel Normandia, onde ficavam os cantores da Jovem Guarda. É mentira que eu namorei a Wanderleia e a Rosemary. Éramos amigos. Conversava muito com o Raul Seixas.
“Vivia como eu queria.
“Adorava a boate La Licorne.
“Era um bordel chique. “A dona, uma cafetina, se apaixonou por mim. Ela soube que eu iria casar. E foi, desesperada, para a Alemanha. Me ofereceu 15 mil dólares e uma Mercedes para que eu ficasse com ela. Em plena Copa do Mundo. Uma loucura. Não aceitei, lógico. E casei.” César teve proposta do Real Madrid, depois de o Palmeiras ter vencido o torneio de Ramón de Carranza, em 1974.
“O Palmeiras disse que eu era inegociável. Só que eu briguei com o Brandão. O técnico se juntou ao Nelson Duque, que era dirigente, e resolveram me vender para o Corinthians. Sem eu saber. Não havia lei do e. Jogador era escravo. Eu fui para lá como punição. Um clube gigante. Mas justo o maior rival. Adorava fazer gol contra ele.
“Não deu certo. Me chamavam de ‘porco’ nos treinos. Um dia, perdi a cabeça e bati em uns moleques de 18 anos. Um deles era filho de um diretor e fui embora do Corinthians. Nunca quis ter ido para lá.” Acabou no Santos, Pelé quase o levou para o Cosmos. Vieram as contusões, que o atrapalharam. Depois, ou pelo Fluminense, Botafogo de Ribeirão Preto, Rio Negro e Aris, da Grécia. “Fui muito feliz no futebol. Dei casa para o meu pai e minha mãe. Cuidei da minha família. Conheci o mundo.
“Sou ídolo.
“O tempo ou.
“O Brasil não tem memória.
“Se pudesse voltar, faria tudo de novo.
“E com uma certeza.
“Nasci para o Palmeiras!”
A entrevista exclusiva e, integral, está no canal Cosme Rímoli, no Youtube.
É uma parceria com o R7.
Cada semana há uma conversa profunda com personagens marcantes no esporte deste país.
O canal já tem mais de 10,9 milhões de os...