Trump diz novamente que pode aumentar tarifas para China e União Europeia
Governo dos EUA justifica taxas como meio de pressionar países a tomarem medidas mais rígidas contra o tráfico de drogas e imigração
Internacional|Do R7

O novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a levantar a possibilidade de impor tarifas à China e sugeriu taxar a União Europeia (UE) durante declarações a repórteres na Casa Branca, nesta terça-feira (21), segundo a agência de notícias Reuters.
O republicano afirmou que estava considerando uma tarifa de 10% sobre produtos chineses, argumentando que o fentanil, substância altamente letal, está sendo enviado da China para os EUA por meio de países como México e Canadá.
“A União Europeia é muito, muito ruim para nós”, disse ele, indicando que o bloco também enfrentará novas tarifas. “É a única maneira de conseguirmos justiça”, acrescentou.
As declarações vieram acompanhadas de ameaças de taxas de 25% contra México e Canadá, caso os dois países não reforcem medidas contra o tráfico de drogas e a imigração ilegal. A data estipulada para o início dessas tarifas seria 1º de fevereiro.
Anteriormente, Trump havia reiterado em várias ocasiões a intenção de aumentar em até 60% a taxação sobre os produtos vindos da China. A medida faria parte de um pacote que também inclui a sobretaxa sobre o México e o Canadá.
As novas ameaças do republicano seguem uma linha dura de governo que inclui tarifas amplas contra países parceiros e medidas severas em relação à imigração, como a restrição à cidadania por direito de nascença.
Repercussão
As declarações de Trump geraram preocupações em mercados financeiros e entre grupos comerciais, que temem um agravamento nas relações econômicas globais.
O assessor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, defendeu a postura de Trump e destacou que as tarifas têm como objetivo pressionar países a tomarem medidas mais rígidas contra o tráfico de drogas.
“A razão por trás dessas tarifas é que 300 americanos morrem todos os dias por overdoses de fentanil”, justificou Navarro em entrevista à emissora de TV norte-americana CNBC, na terça-feira.
O Ministério das Relações Exteriores da China reagiu às ameaças afirmando que está disposto a dialogar com os EUA para “resolver diferenças de maneira adequada e expandir a cooperação mútua”.
O porta-voz Mao Ning, no entanto, reforçou que o país protegerá seus interesses. “Sempre acreditamos que não há vencedores em guerras comerciais ou tarifárias”, declarou em entrevista a repórteres nesta quarta, de acordo com a Reuters.
Analistas apontam que o impacto de uma escalada nas tarifas pode repercutir globalmente, aumentando tensões econômicas e políticas entre as maiores potências do mundo.
Impactos sobre o Brasil
A tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo é um fator decisivo para a economia do Brasil. Isso porque, para minimizar os impactos das tarifas de Trump, a China pode intensificar a compra de produtos agrícolas dos EUA e reduzir a dependência sobre as importações brasileiras.
O Brasil é o maior exportador mundial de alimentos para a China, responsável por cerca de 25% das importações alimentícias do país asiático.
Em 2023, o Brasil exportou mais de US$ 60 bilhões (cerca de R$ 362 bilhões) em produtos do agronegócio para a China. Foram US$ 9 bilhões (aproximadamente R$ 54 bilhões) a mais do que em 2022, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Economistas apontam que uma redução na demanda chinesa por produtos brasileiros resultaria em perdas bilionárias para o agronegócio brasileiro e para a economia do país como um todo.
“Se a China agora tentar evitar tarifas prometendo comprar mais produtos agrícolas dos EUA, isso pode ser uma péssima notícia para o Brasil. A China vai se esforçar para comprar coisas dos EUA, pois as tarifas representam um grande perigo”, disse Robin Brooks, economista do Instituto Brookings, em uma análise publicada no X (antigo Twitter).
Para o especialista, o desenvolvimento do Brasil como um grande país com superávit comercial depende em grande parte de sua relação com a China. “O Brasil está prestes a descobrir que não existe um ‘Sul Global’”, disse, acrescentando que o país pode “ser descartado como uma batata quente”.