Tartarugas usam ‘GPS natural’ para encontrar comida - e dançam para comemorar
Pesquisa revela que animais aprendem a associar s magnéticas a locais de alimentação e podem atualizar mapas ao longo da vida
Internacional|Do R7

As tartarugas marinhas cabeçudas utilizam um sofisticado sistema de navegação baseado no campo magnético da Terra, como uma espécie de “GPS natural”, para encontrar comida e se localizar ao longo da vida.
É o que pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, descobriram recentemente. A descoberta foi publicada na prestigiosa revista Nature na última quarta-feira (12).
O estudo demonstrou que as tartarugas podem aprender e memorizar campos magnéticos com a presença de comida. E mais: quando expostas a esses campos, mesmo meses depois, elas reagem com o que os cientistas chamaram de “dança da tartaruga”: levantam a cabeça, batem as nadadeiras e giram no lugar, como uma comemoração antes da alimentação.
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O que são campos magnéticos?
Campos magnéticos são como coordenadas invisíveis que os animais podem usar para se localizar no planeta. Cada lugar da Terra tem uma única do campo magnético, com pequenas variações na intensidade e direção das linhas magnéticas.
As tartarugas marinhas aprendem a reconhecer essas s magnéticas e as usam como um mapa mental. É como se cada local tivesse um “código magnético” próprio, permitindo que as tartarugas saibam onde estão e como voltar para lugares importantes, como áreas de alimentação e praias de desova.
Como eles descobriram isso?
No laboratório, os cientistas usaram bobinas elétricas especiais para gerar campos magnéticos artificiais, que imitam os de diferentes locais do oceano. Assim, eles podem simular, por exemplo, o campo magnético de uma área no Golfo do México ou na costa da Flórida, sem sair do laboratório.
Sempre que expam as tartarugas a um campo magnético específico, os pesquisadores ofereceram comida. Com o tempo, os animais aprenderam a associar aquele campo magnético com alimentação, como se aquele “endereço magnético” significasse um bom local para encontrar alimento.
Depois de um tempo sem oferecer comida, os cientistas voltaram a expor as tartarugas ao mesmo campo magnético. Se elas reagissem de forma animada (fazendo a “dança da tartaruga”), era um indício de que memorizaram aquela magnética e esperavam encontrar comida ali novamente.

Sistemas sofisticados
Os cientistas descobriram que as tartarugas usam dois sistemas diferentes para se orientar no oceano: um mapa magnético e uma bússola magnética.
- Mapa magnético: funciona como um “GPS natural”. As tartarugas conseguem memorizar “endereços” magnéticos de locais importantes, como áreas de alimentação e praias de desova, e reconhecê-los quando am por eles novamente.
- Bússola magnética: funciona como uma bússola comum. Esse sistema ajuda as tartarugas a saber para onde estão indo, permitindo que se movam para o norte, sul, leste ou oeste.
Os pesquisadores testaram esses sentidos expondo as tartarugas a campos de radiofrequência oscilantes (um tipo de interferência magnética). O que eles descobriram foi surpreendente:
- O mapa magnético continuou funcionando normalmente. Ou seja, as tartarugas ainda reconheciam os locais aprendidos.
- A bússola magnética parou de funcionar. As tartarugas ficaram desorientadas e não conseguiam mais navegar corretamente.
Isso sugere que os dois sistemas funcionam separadamente e podem ter evoluído de maneiras diferentes. É como se as tartarugas tivessem um mapa na memória, mas precisassem de uma bússola para saber para que lado ir.
Se a bússola for “desligada”, elas ainda lembram dos locais, mas não sabem em que direção seguir.
Por que a descoberta é importante?
Essas descobertas ajudam a explicar como as tartarugas conseguem percorrer milhares de quilômetros pelos oceanos e retornar a locais específicos de alimentação e desova com precisão impressionante.
Mais do que isso, o estudo sugere que as tartarugas podem atualizar seus mapas magnéticos ao longo da vida, permitindo que se adaptem a mudanças ambientais e encontrem novos locais favoráveis.
“Sabemos há anos que as tartarugas marinhas têm mapas magnéticos, mas agora aprendemos que elas podem construir e modificar esses mapas”, escreveu a pesquisadora Catherine Lohmann, coautora do estudo. “Isso nos ajuda a entender melhor como essas criaturas navegam pelo oceano usando informações invisíveis para nós.”
Além de aprofundar o conhecimento sobre as tartarugas, a pesquisa pode fornecer pistas sobre como outros animais migratórios, como pássaros e salmões, utilizam o campo magnético da Terra para se orientar.
O próximo o, de acordo com o estudo, será investigar quais mecanismos biológicos permitem essa percepção magnética nas tartarugas, uma questão que intriga cientistas há décadas.