O que são as terras raras da Ucrânia e por que Trump quer tomá-las?
Presidente dos EUA mencionou interesse em explorar minerais ucranianos em troca de apoio ao país em meio a guerra com a Rússia
Internacional|Do R7

As terras raras voltaram ao centro do debate geopolítico depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou na segunda-feira (3) intenção de fazer um acordo com a Ucrânia para obter o aos recursos minerais do país em troca do apoio financeiro norte-americano na guerra contra a Rússia.
Desde o início do conflito, os EUA autorizaram US$ 175 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão) em apoio à Ucrânia. Desse montante, US$ 106 bilhões (R$ 623 bilhões, aproximadamente) foram destinados diretamente ao governo ucraniano, segundo o Conselho de Relações Internacionais norte-americano. O restante financiou operações militares do próprio país e de aliados na região.
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O que são terras raras e por que são estratégicas?
Terras raras são áreas que abrigam minerais considerados essenciais para a fabricação de componentes usados em veículos elétricos, smartphones, sistemas de defesa, turbinas eólicas e outros equipamentos de alta tecnologia.
Embora esses minerais sejam relativamente abundantes no planeta, a Ucrânia possui uma das maiores reservas desses elementos críticos da União Europeia, segundo o Ministério da Economia ucraniano.
O país tem depósitos de 22 dos 34 materiais considerados essenciais pelo bloco, como titânio, manganês, níquel, urânio, zircônio e lítio -- há cerca de 500 mil toneladas deste último mineral, que é essencial para a fabricação de veículos elétricos, nas minas ucranianas.
Dados do Serviço Geológico dos EUA apontam que a Ucrânia também abriga cerca de 7% das reservas globais de titânio, essencial para o setor aeroespacial, e 20% das de grafite, um componente-chave para reatores nucleares.
Apesar da potência ucraniana, cerca de 40% dos recursos metálicos do país estão sob ocupação russa, incluindo dois dos quatro principais depósitos de lítio, localizados em Donetsk e Zaporizhzhia.
A China também ofusca a riqueza da Ucrânia. O país domina o mercado global de minerais raros: é dono de um terço das reservas conhecidas em todo o mundo. Como se não bastasse, também é responsável por 80% dos elementos fornecidos para os Estados Unidos, segundo a rádio sa RFI.
O interesse de Trump
Trump não detalhou como funcionaria um possível acordo entre EUA e Ucrânia para a exploração desses materiais. O republicano também já demonstrou interesse em obter controle sobre a Groenlândia, território dinamarquês rico em terras raras.
Segundo a RFI, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky já havia incluído a exploração de seus recursos minerais em seus planos de recuperação antes mesmo das declarações de Trump.
A Ucrânia tem buscado parcerias com países ocidentais, como Reino Unido, França e Itália, para desenvolver seus projetos de mineração. O objetivo é garantir que esses recursos permaneçam fora do controle do líder russo Vladimir Putin.
A exploração desses depósitos por aliados ocidentais poderia reduzir a influência da China no mercado de terras raras e aumentar a segurança energética e industrial dos EUA e da Europa.
Diante desse cenário, a questão das terras raras da Ucrânia não envolve apenas um potencial acordo entre Trump e Kiev, mas faz parte de uma disputa econômica e estratégica que pode redefinir o equilíbrio de forças no mercado global de matérias-primas essenciais.
Desafios para a exploração mineral na Ucrânia
A exploração mineral na Ucrânia tem enorme potencial econômico. O governo do país estima que o setor pode atrair investimentos de US$ 12 bilhões a US$ 15 bilhões (de R$ 70 bilhões a R$ 88 bilhões, aproximadamente) até 2033.
Mas o serviço é desafiador. Embora o país tenha infraestrutura e mão de obra qualificadas, investidores apontam barreiras regulatórias e dificuldades para o a dados geológicos. A guerra também dificulta a operação das minas, especialmente nas regiões do leste e sudeste, onde ocorrem os combates mais intensos.