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Em crise, Peru pode bater recorde de candidatos à presidência

Segundo a justiça eleitoral peruana, 39 partidos já estão inscritos para as eleições de 2026 e outros 31, em processo de inscrição

Internacional|Do R7

Em crise, Peru pode bater recorde de candidatos à presidência Divulgação/JNE

O Peru pode ter um cenário inédito nas eleições de 2026. Pelo menos 70 partidos políticos podem lançar candidatos à presidência do país, segundo o Júri Nacional Eleitoral (JNE). Dos grupos, 39 já estão oficialmente inscritos para o pleito e os demais, em processo de inscrição -- que pode ser concluído até abril.

Se todos os partidos se inscreverem a tempo e não houver formação de alianças eleitorais, o país andino pode ter um número recorde de concorrentes e, inclusive, superar com folga a quantidade de candidatos da eleição presidencial de 2021, que chegou a 18.

A título de comparação, as últimas eleições gerais no Brasil, em 2022, tiveram 32 partidos participantes e 12 candidatos à presidência.

Além da escolha do próximo presidente, os peruanos irão às urnas para eleger dois vice-presidentes e 190 parlamentares. O pleito é ainda mais atípico por marcar o retorno do sistema bicameral, formado por Senado e Câmara dos Deputados, algo que não acontecia no país desde 1992.


Na lista de inscritos, há partidos de todos os espectros políticos: desde a esquerda radical, ando pelo centro liberal, até a direita. Entre os mais conhecidos, estão o Perú Libre, partido de esquerda da qual a atual presidente Dina Boluarte fez parte, e o Fuerza Popular, de direita, associado a Keiko Fujimori, derrotada na última disputa.

A quantidade inédita de partidos tem um motivo. Ela é reflexo de uma crise política que parece não ter fim no Peru. Há quase dez anos, o país tem enfrentado escândalos de corrupção e rivalidades entre o Executivo e o Legislativo que geraram uma instabilidade governamental sem precedentes.


Conflito entre poderes

A crise começou nas eleições de 2016. Naquele ano, Pedro Pablo Kuczynski derrotou Keiko Fujimori, representante do “fujimorismo”. O termo se refere ao movimento ligado ao ex-presidente Alberto Fujimori, que governou o país de maneira autoritária nos anos 90. A derrota de Keiko foi celebrada por setores progressistas, mas o resultado trouxe consequências graves.

Embora derrotados na presidência, os fujimoristas conquistaram a maioria no Congresso, o que deu início a um grande conflito entre o parlamento e o Executivo.


Pedro Castillo foi destituído após tentativa de autogolpe, em 2022 Divulgação/Pedro Castillo

Desde então, o país já teve seis presidentes e viu quatro deles renunciarem ou serem destituídos por impeachment. O caso mais recente foi o de Pedro Castillo. Eleito em 2021, foi destituído e preso no ano seguinte, após tentar dissolver o Congresso e convocar novas eleições.

Hoje, a relação entre a atual presidente Dina Baluarte e o Congresso é de cooperação, mas a aliança é controversa. Quando chegou ao poder, após a destituição de Castillo, Boluarte pertencia ao Perú Libre. Mais tarde, no entanto, ela adotou uma postura mais conservadora, foi expulsa do partido e se aliou a grupos de direita no parlamento, que detêm 78 dos 130 assentos.

A transição gerou críticas, especialmente entre eleitores, que se sentiram traídos pela mudança de postura política. A aliança de Boluarte com o Congresso de direita é vista como uma estratégia para manter o poder, mesmo que isso signifique reprimir antigos apoiadores.

Corrupção sistêmica

Política e corrupção têm laços antigos no Peru. Em 2018, Pedro Pablo Kuczynski decidiu renunciar quando vieram à tona denúncias de envolvimento dele no caso Odebrecht, o maior escândalo de corrupção da América Latina. Ele foi preso no ano seguinte, acusado de lavagem de dinheiro.

Kuczynski não foi o único. Outros dois ex-presidentes andinos também foram presos entre 2017 e 2019 em investigações conduzidas pela Lava Jato no Peru: Ollanta Humala, que governou entre 2011 e 2016, e Alejandro Toledo, mandatário entre 2001 e 2006.

Alan García, presidente em dois mandatos, de 1985 a 1990 e 2006 a 2011, também enfrentou acusações, mas morreu depois de dar um tiro na cabeça quando ia ser preso, em 2019.

O escândalo ainda se espalhou para além do Executivo. Keiko Fujimori, presidente do partido Fuerza Popular, foi acusada de receber recursos da empreiteira para a campanha eleitoral de 2011. Ela foi presa por lavagem de dinheiro em 2018 e em 2020.

Anos mais tarde, a atual presidente peruana também se vê envolvida em acusações de corrupção. Em 2024, Boluarte foi denunciada pelo Ministério Público do país por supostamente possuir relógios de luxo não declarados; ela nega. O caso, que ficou conhecido como “Rolexgate”, levou à renúncia de seis dos ministros à época.

Desconfiança popular

As sucessivas denúncias de corrupção e os conflitos entre poderes criaram um ambiente de incerteza e desconfiança nas instituições peruanas por parte da população. O descontentamento popular é tanto que, hoje, apenas 3% dos andinos aprovam o atual governo, segundo pesquisa publicada pelo jornal “El Comercio” em dezembro de 2024.

Boluarte governa em meio a denúncias de corrupção e pressão popular Divulgação/Governo do Peru

Boluarte governa desde o início do mandato sob forte contestação. Manifestações contra ela deixaram dezenas de mortos e feridos entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023. A mandatária é investigada pelo MP peruano por “homicídio agravado e ofensas corporais graves” por causa do episódio.

Todo o revés político é agravado ainda por uma crise econômica que piorou muito depois da pandemia. Em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) do país contraiu 11%, uma das maiores quedas na América Latina. Embora tenha havido uma recuperação de 13,5% em 2021, a instabilidade política contínua afetou negativamente o crescimento econômico subsequente.

Existir muitos candidatos à presidência é positivo?

A possibilidade de o Peru ter até 70 candidatos à presidência pode ser interpretada como um reflexo de diversidade democrática, mas também levanta preocupações sobre a fragmentação política do país, segundo especialistas.

Eles alertam que a proliferação de candidaturas ainda pode estar atrelada à ausência de lideranças sólidas. As frequentes mudanças na chefia do Executivo -- cinco em nove anos -- refletem a dificuldade em consolidar coalizões políticas e em governar um país com múltiplos interesses em jogo.

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