Cirurgia em árvore de 300 anos mobiliza especialistas e moradores na China
Trabalhadores perfuraram o concreto ao redor da árvore e injetaram nutrientes no solo, alcançando raízes a até três metros de profundidade
Internacional|Do R7

Uma árvore de cânfora com mais de 300 anos, localizada na vila de Xinyuan, na província de Hunan, no centro da China, está ando por um minucioso processo de restauração após sinais de declínio nos últimos anos. A operação mobilizou especialistas, trabalhadores e até moradores locais, que acompanharam o que foi descrito como “uma verdadeira cirurgia arborícola”.
A árvore começou a apresentar sintomas de deterioração em 2021, após obras para construção de um aterro de controle de enchentes compactarem parte das raízes. A interferência prejudicou a capacidade de absorção de água e nutrientes da árvore, provocando folhas amareladas, queda precoce da folhagem e galhos nus, alguns sinais clássicos de morte da copa, segundo Wu Lei, vice-diretor do Centro de Pesquisa e Conservação de Árvores Antigas da Universidade Central do Sul de Silvicultura e Tecnologia.
Wu lidera a equipe que conduz a restauração. O trabalho começou com o isolamento da área ao redor da árvore. Em seguida, ele e outro técnico subiram até a copa com o auxílio de um guindaste, onde usaram motosserras para podar galhos mortos e selaram os cortes com uma pasta cicatrizante. No solo, trabalhadores perfuraram o concreto ao redor da árvore e aram a injetar nutrientes a até três metros de profundidade, repetindo o processo a cada meia hora para alcançar as raízes comprometidas.
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“Para curar uma árvore ancestral, é preciso começar pela sensação que ela causa. Assim como as pessoas, as árvores podem sofrer com excessos ou maus-tratos,”, disse Wu.
A operação foi autorizada após uma revisão completa do departamento florestal do condado. A estimativa é de que a recuperação total leve cerca de um ano e custe 30 mil yuans (aproximadamente R$ 24 mil). Durante esse período, a árvore receberá cuidados contínuos como fertilização, poda e, principalmente, o treinamento dos moradores locais para garantir a preservação no longo prazo.
Casos como esse não são isolados. A província de Hunan abriga cerca de 240 mil árvores antigas ou notáveis registradas. Até o ano ado, quase 4 mil delas foram resgatadas de situações críticas e outras 30 mil aram por revitalização. Este ano, o governo local pretende digitalizar os registros de todas essas árvores e promover 200 eventos educativos voltados à preservação e à conscientização.
A iniciativa de Hunan integra uma campanha nacional em curso na China para proteger árvores centenárias e árvores notáveis, que têm relevância histórica, cultural ou ecológica. Desde 2021, o país contabilizou mais de 5 milhões dessas árvores em território chinês. Em janeiro deste ano, a China implementou seu primeiro conjunto de regulamentos nacionais voltados exclusivamente à preservação desse patrimônio natural.
Cidades como Pequim e Chengdu também vêm reforçando os cuidados com árvores centenárias. Na capital, especialistas monitoram regularmente os exemplares que margeiam o Eixo Central da cidade, reconhecido pela UNESCO. Já em Chengdu, uma equipe de “médicos florestais” avalia árvores antigas desde 2014.
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