Boeing 787 Dreamliner sofre primeiro acidente fatal, mas já enfrentava dificuldades
Apesar da reputação tecnológica, problemas técnicos e incidentes recentes colocam modelo sob suspeita
Internacional|Do R7

Um Boeing 787-8 Dreamliner da Air India caiu pouco após decolar do aeroporto internacional Sardar Vallabhbhai Patel, em Ahmedabad, na Índia, nesta quinta-feira (12). A aeronave, que fazia o voo AI171 para Londres Gatwick, levava 242 pessoas a bordo, entre ageiros e tripulantes.
Este é o primeiro acidente fatal envolvendo o modelo 787, uma aeronave lançada há 14 anos e reconhecida mundialmente pela sua eficiência em consumo de combustível e avanços tecnológicos. Até o momento, o Dreamliner nunca havia sofrido uma perda total nem causado fatalidades.
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Desde sua entrada em operação, em 2011, o Boeing 787 conquistou boa reputação por oferecer conforto, segurança e alcance para voos de longa distância. Utiliza uma estrutura composta por cerca de 50% de materiais compostos à base de fibra de carbono, o que reduz o peso e melhora a eficiência.
O modelo também introduziu melhorias para o ageiro, como janelas maiores, maior umidade na cabine e melhor qualidade do ar, amenizando o jet lag. Com capacidade para transportar entre 210 e 248 ageiros, ele cobre rotas que ultraam 13 mil quilômetros sem escalas.
Do ponto de vista tecnológico, o Dreamliner está equipado com sistemas de aviônica de última geração, controles fly-by-wire e avançados dispositivos de segurança que melhoram a consciência situacional da tripulação. Entre esses sistemas está o Synthetic Vision System (SVS), que oferece uma visão tridimensional do terreno e potenciais obstáculos, auxiliando na tomada de decisão dos pilotos, especialmente em condições meteorológicas adversas ou baixa visibilidade.
O avião também conta com o sistema Integrated Modular Avionics (IMA), que centraliza e integra diversas funções de aviônica, facilitando a manutenção e otimizando o desempenho operacional da aeronave.
No entanto, apesar de sua modernidade, o 787 enfrentou várias dificuldades desde seu início. Em 2013, toda a frota foi temporariamente proibida de voar devido a incidentes com superaquecimento das baterias de íon-lítio. Mais recentemente, houve relatos de problemas na linha de produção e qualidade de fabricação, como peças mal instaladas e componentes defeituosos.
Além disso, incidentes técnicos como falhas hidráulicas, problemas em flaps e pousos de emergência foram registrados, embora sem consequências fatais até hoje. No início de 2025, um voo da United Airlines com o mesmo modelo sofreu uma perda abrupta de altitude devido a falhas em sistemas inerciais, ferindo dezenas a bordo.
A istração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) já investigou diversas preocupações relativas ao Dreamliner, incluindo um mergulho inesperado de um voo da LATAM no ano ado. Um ex-engenheiro chegou a solicitar que todos os 787 fossem retirados de serviço, mas a Boeing rechaçou a recomendação, afirmando confiança plena na aeronave.
Com mais de 1.100 unidades em operação mundialmente, o 787 é amplamente utilizado pelas principais companhias aéreas internacionais. A Air India opera atualmente cerca de 30 dessas aeronaves, incorporadas desde 2012 para rotas de longo alcance.
Na Índia, o histórico de segurança aérea é marcado por altos e baixos. Embora o setor aéreo tenha crescido exponencialmente nas últimas décadas, as melhorias nas normas e práticas elevaram a segurança geral das operações.
Dados indicam que acidentes acontecem principalmente durante as fases de decolagem e pouso. No caso do voo da Air India em Ahmedabad, a aeronave alcançou apenas 625 pés de altitude antes do desastre, segundo informações do site Flightradar24.
O último acidente envolvendo a Air India ocorreu em 2020, quando um Boeing 737-800 da Air India Express deslizou para fora da pista durante o pouso em condições climáticas adversas no aeroporto de Calicut.
Especialistas em aviação e autoridades da Direção Geral da Aviação Civil (DGCA) da Índia, junto com técnicos da Boeing, investigam as causas do acidente. Os dados dos gravadores de voo e voz da cabine serão fundamentais para elucidar o que motivou a queda.
Este incidente ocorre em um momento delicado para a Boeing, que ainda enfrenta desafios decorrentes de falhas em outros modelos, principalmente o 737 Max, envolvido em acidentes fatais em 2018 e 2019 e que teve sua reputação abalada.
Kelly Ortberg, CEO da Boeing, está prestes a completar um ano no cargo e enfrenta agora uma prova crítica para a credibilidade da empresa e sua liderança, após uma série de controvérsias e investigações que abalaram a indústria aeronáutica global.
Com mais de 1.100 Dreamliners em operação mundial, o modelo é peça-chave para as companhias aéreas que buscam reduzir custos e ampliar rotas sem escalas. A continuidade da confiança nesse avião dependerá do esclarecimento dos recentes incidentes e da capacidade da Boeing de aprimorar seus processos.