Pressão e falta de grana: como o burnout atinge um em três professores da educação básica
Maioria dos docentes ouvidos por pesquisa são mulheres e sofrem de transtornos psicológicos e comportamentos compulsivos
Educação|Vivian Masutti, do R7

A prevalência da síndrome de burnout atinge quase 32,75% dos professores da educação básica analisados por uma pesquisa do Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) da Baixada Santista.
Participaram do estudo 397 professores de diversos estados brasileiros, provenientes de escolas públicas e privadas, sendo a maioria (87,41%) do sexo feminino.
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Depressão: os sintomas são desmotivação, tristeza sem motivo, desinteresse pela vida, alteração no apetite e sono, irritação e cansaço. A psiquiatra Carolina Hanna, do Hospital Sírio-Libanês, explica que a depressão tem mais de uma causa que envolve fa...
Depressão: os sintomas são desmotivação, tristeza sem motivo, desinteresse pela vida, alteração no apetite e sono, irritação e cansaço. A psiquiatra Carolina Hanna, do Hospital Sírio-Libanês, explica que a depressão tem mais de uma causa que envolve fatores comportamentais com o desequilíbrio de neurotransmissores, como a serotonina, que regula o humor, e a dopamina, responsável pela sensação de bem-estar. O diagnóstico é feito pelo psiquiatra e o tratamento engloba terapia e medicamentos, podendo ser utilizados de maneira conjunta ou não *Estagiária do R7 sob supervisão de Deborah Giannini
Desses, 55,92% tiveram crises de burnout pessoal, que avalia a exaustão física e emocional do indivíduo, sem relacioná-la diretamente a aspectos laborais.
Os outros 43,58% apresentaram burnout relacionado ao trabalho, o que aborda sentimentos de exaustão e frustração intimamente ligados à rotina laboral e às limitações que ela impõe na vida pessoal.
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Os dados estão na dissertação de mestrado que a estudante Raphaela dos Santos Gonçalves apresentou ao programa de pós-graduação interdisciplinar em ciências da saúde do ISS/Unifesp.
O objetivo do estudo foi investigar a prevalência da síndrome de burnout em professores da educação básica e sua relação com satisfação no trabalho, fatores sociodemográficos e organizacionais.
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“No caso dos professores, o aumento na prevalência da síndrome de burnout é um fator que impacta a qualidade do ensino em todas as áreas. Professores acometidos têm menor capacidade de ensinar seus alunos, preparam material pedagógico de qualidade inferior e apresentam baixa tolerância às interrupções em sala de aula”, afirma Raphaela.
"O burnout é uma resposta física e emocional ao estresse crônico, que ocorre quando as demandas e pressões do trabalho excedem a capacidade do indivíduo de lidar com elas de maneira saudável. No entanto, é importante ressaltar que não é apenas o trabalho que exerce essa carga estressora. Durante minha pesquisa, ficou claro que aspectos da vida pessoal, como casamento e filhos, também atuam como agravantes", completa, em entrevista ao R7.
A síndrome de burnout e a escola
Descrita inicialmente em 1974, a síndrome de burnout, também chamada apenas de burnout ou síndrome do esgotamento profissional, é definida como um estado físico, emocional e mental no qual o indivíduo vivencia extrema exaustão, despersonalização e redução do senso de realização pessoal.
Raphaela lembra que a educação básica enfrenta desafios significativos em termos de recursos limitados, salas de aula lotadas, baixa remuneração, infraestrutura precária e falta de e emocional, além de uma gestão autoritária e pouco humanizada.
"O sistema educacional frequentemente impõe altas expectativas e demandas aos professores, como cumprir programas curriculares rigorosos, preparar os alunos para exames padronizados e lidar com as crescentes demandas istrativas. Essas pressões podem levar a uma sobrecarga de trabalho, falta de tempo para planejamento e autocuidado, além de diminuir a sensação de realização profissional."
Os sintomas relacionados ao burnout encontrados com maior significância foram classificados em três categorias: consequências físicas, psicológicas e ocupacionais.
“Há um desequilíbrio entre as demandas exigidas do docente, como rendimento, bom trabalho, boa formação e a recompensa recebida. Isso evidencia a desvalorização da profissão e faz com que cada vez mais haja necessidade de trabalhar em mais de um local para compor a sua renda mensal e suprir as suas necessidades básicas. Tal panorama faz com que situações como a do burnout aconteçam em índices cada vez mais alarmantes nessa população”, diz a pesquisadora.
De acordo com ela, o professor acometido pela síndrome de burnout pode apresentar transtornos psicológicos, alterações metabólicas, desenvolvimento de comportamentos compulsivos, dependência química e até abandonar a profissão.
“A educação é um dos alicerces da sociedade, portanto, é essencial valorizar e garantir que as condições de vida e trabalho dos professores sejam dignas.”
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A psicóloga Marilene Kehdi, especialista em atendimento clínico, ressalta a importância de cuidar da saúde mental. "Se a mente não está bem, isso vai refletir em todas as áreas da vida. Dar atenção e cuidar da saúde mental é cuidar da vida. É prevenir doenças físicas, enfrentar melhor os problemas e desafios da vida, ter um equilíbrio emocional", diz ela