Entenda o que muda e o impacto da pandemia no novo ensino médio
A partir de 2022, proposta coloca o estudante como o protagonista da vida escolar e prioriza projetos de vida
Educação|Karla Dunder, do R7

O novo ensino médio, por lei, a a valer a partir de 2022 em todo o país, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia de covid-19. Entenda qual é o momento atual da implantação nos estados e quais as mudanças que estudantes devem encarar no próximo ano.
Em São Paulo, escolas da rede estadual já deram os primeiros os para o processo de implantação neste ano e na próxima terça-feira (8) a Seduc (Secretaria de Estado da Educação) fará o anúncio de pelo menos dez possíveis itinerários formativos que os estudantes poderão seguir.
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Aprovada em 2017, a proposta do novo ensino médio coloca o estudante como o protagonista da sua vida escolar e de seus projetos de vida. Dessa maneira, os alunos do ensino médio devem ter a formação em um currículo baseado na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), em quatro áreas do conhecimento (Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas). E 40% da carga horária será destinada a escolha de itinerários formativos para o aprofundamento em uma ou mais áreas ou para a formação técnica.
Gustavo Blanco, gestor no Novo Ensino Médio na Seduc, explica que neste ano de 2021 todos os estudantes do primeiro ano do ensino médio em 2021 já têm o a um conteúdo comum, mas a escolha do itinerário formativo começa a partir do 2º ano, em 2022. "A implantação ocorre de maneira progressiva, os itinerários foram criados de forma coletiva com toda a rede levando em consideração o interesse de jovens e dos professores", explica.
Após esse processo de escuta, a secretaria recebeu sugestões de mais de 18 mil propostas de itinerários. "Nossa expectativa é que esses itinerários conversem mais com a realidade dos alunos, que estejam mais conectados ao seu dia a dia, que melhorem os resultados de aprendizagem e diminua a evasão."

O processo de transição para o novo ensino médio, principalmente por conta da pandemia, segue em diferentes níveis. Cecilia Motta, secretária de Educação do Mato Grosso do Sule vice-presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) destaca que "cada estado está em um momento diferente para a implantação do novo ensino médio, mas existe, em geral, um trabalho de formação de professores realizado a distância."
De acordo com o balanço do Consed, 20 estados inscreveram os currículos nos CEEs (Conselhos Estaduais de Educação) e destes11 já foram homologados. Seis estados estão finalizando a consulta pública e apenas a Bahia está em processo de construção curricular.
Professores da rede pública e privada tem participado dos processos de formação. "É uma mudança radical na maneira de pensar e atuar, o professor deixa de ser tão específico e a a ensinar de forma mais interdisciplinar", observa Viviane Paiva Direito, coordenadora pedagógica do Ensino Médio do Colégio Pio XII.
Maria Helena Castro, consultora pedagógica do Colégio Lourenço Castanho, acredita que o novo modelo deve "alinhar o ensino médio brasileiro ao dos demais países." Para ela, todos os estudantes tinham de aprender o mesmo conteúdo, o que nem sempre fazia sentido. "Temos a possibilidade de trabalhar com os jovens em áreas diferentes, o que permite que possam ar por um processo de autoconhecimento e escolher uma profissão para o futuro."
"Atualmente o jovem não tem um projeto de vida, não sabe o curso que quer seguir, mas sabe que tem de prestar vestibular", avalia a coordenadora do Pio XII. "Não temos a ilusão de que esse processo vai se dar do dia para a noite, mas estamos investindo em um trabalho de formação dos professores, com uma consultoria de fora do colégio para auxiliar todos os profissionais da escola e as famílias também."
Numa enquete realizada com as famílias do colégio, a escola percebeu que poucos sabiam das mudanças previstas para o ensino médio. "A escola deve se responsabilizar por esse processo e orientar os estudantes."
Para Maria Helena, a partir do momento que o estudante escolhe um itinerário, "ele pode aprofundar os seus conhecimentos e ampliar a sua visão de mundo", diz. "Os alunos percebem a aplicabilidade daquele conteúdo para a vida."
As mudanças também impactam as editoras de livros. "Os materiais didáticos auxiliam no processo de transição para o novo ensino médio, os professores arão a trabalhar de forma integrada e as obras devem seguir esse caminho", observa Ângelo Xavier, presidente da Abrelivros (Associação Brasileira de Editores e Produtores de Conteúdo e Tecnologia Educacional). Para a elaboração desse novo material didático as editoras contaram com equipes multidisplinares para a elaboração do conteúdo.
O novo ensino médio, a partir de 2024, também deve impactar as provas do Enem, a principal porta de entrada para as universidades do país. O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pela aplicação do exame, deve adaptar o exame para avaliar melhor os itinerários formativos.