STF retoma interrogatórios com ex-comandante da Marinha que teria oferecido tropas para golpe
Mauro Cid e Alexandre Ramagem já foram ouvidos por Moraes; outros 6 ainda serão interrogados, entre eles Bolsonaro
Brasília|Do R7, em Brasília

O STF (Supremo Tribunal Federal) retoma nesta terça-feira (10) os interrogatórios dos réus do chamado “núcleo 1″ por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A audiência deve começar às 9h, com o almirante e ex-comandante da Marinha Almir Garnier.
As investigações sobre o caso revelaram que o almirante teria colocado as tropas da Marinha à disposição do ex-presidente Jair Bolsonaro para um eventual golpe militar.
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Os interrogatórios dos réus do “núcleo 1″ começaram nessa segunda-feira (9), com as falas do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e do deputado federal e ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem.
As audiências ocorrem na sala da Primeira Turma do STF, que conduz a ação penal do caso. O Supremo ainda precisa ouvir seis réus:
- Almir Garnier;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal;
- Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e
- Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e candidato a vice de Bolsonaro em 2022.
Braga Netto é o único que será interrogado por videoconferência, visto que o militar está preso de forma preventiva desde dezembro de 2024.
Crimes dos réus
Quase todos os réus do “núcleo 1″ são acusados de cinco crimes:
- Organização criminosa armada;
- Tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito;
- Tentativa de golpe de Estado;
- Dano qualificado pela violência e grave ameaça; e
- Deterioração de patrimônio tombado.
A única exceção é Alexandre Ramagem, que responde por tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa armada.
Por decisão do STF, a ação penal contra o deputado em relação aos outros dois crimes só vai ser analisada ao fim do mandato dele.
O que disse Mauro Cid
Mauro Cid foi o primeiro a ser ouvido pelo STF por ter fechado acordo de delação premiada. Durante o interrogatório, que durou cerca de 4 horas, Cid confirmou que, em novembro de 2022, depois de Bolsonaro ter perdido as eleições para Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente recebeu a chamada minuta do golpe, um documento que previa a realização de um novo pleito.
Cid disse que Bolsonaro recebeu, leu e fez alterações no documento, que previa a anulação das eleições de 2022. Segundo ele, Bolsonaro teria “enxugado” o texto original, retirando trechos que mencionavam a prisão de autoridades do Judiciário e do Legislativo.
Esses nomes teriam sido retirados por Bolsonaro na tentativa de “suavizar” o decreto. Contudo, segundo Cid, Bolsonaro manteve o trecho que previa a prisão de Moraes, que à época era presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
“O presidente Jair Bolsonaro recebeu e leu esse documento. E fez algumas alterações no documento. De certa forma, enxugou o documento, retirando as autoridades das prisões”, disse Cid.
A minuta, segundo Cid, previa ainda a criação de uma comissão eleitoral para organizar um novo pleito, mesmo após o resultado oficial que elegeu Lula. “Seria produzir uma nova eleição baseada numa eleição anulada”, afirmou.
Interrogatório de Ramagem
Ouvido depois de Cid, Ramagem negou ter difundido documentos com críticas ao sistema eleitoral brasileiro. Ele afirmou que o material atribuído a ele, contendo desconfianças sobre as urnas eletrônicas, era um “documento privado” com “opiniões pessoais” que jamais foram compartilhadas oficialmente.
Um dos documentos foi identificado com o nome de usuário “aramagem” e, segundo o inquérito, teria sido criado em 10 de julho de 2021 e modificado pela última vez em 27 de julho daquele ano. O conteúdo apresenta uma narrativa voltada a desacreditar o processo eleitoral brasileiro e as urnas eletrônicas.
“Tudo o que coloquei nesse documento são anotações pessoais, privadas. Não houve difusão ou encaminhamento. Era algo meu, com opiniões privadas, não oficiais. Não foi compartilhado com ninguém”, afirmou Ramagem.
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