‘Uma pessoa como Pepe Mujica não morre’ e ‘ser humano superior’, diz Lula em velório
Cerimônia foi estendida para aguardar chegada de brasileiro, que estava em viagens à Rússia e à China
Brasília|Luiz Fara Monteiro, enviado especial da RECORD a Montevidéu, e Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a homenagear nesta quinta-feira (15) o ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, morto na terça (13), aos 89 anos, vítima de um câncer no esôfago. O petista discursou no velório do amigo, em Montevidéu, capital do Uruguai, ao lado da comitiva que o acompanha, formada por ministros e parlamentares. A cerimônia, que ocorre no prédio do parlamento da nação, foi estendida para que Lula conseguisse participar.
“O que é gratificante para nós seres humanos é que uma pessoa como Pepe Mujica não morre. Se foi o corpo dele, a carne dele se vai, mas as ideias que Pepe Mujica plantou em todos esses anos, inclusive, a generosidade de um homem que ou 14 anos no cárcere e que conseguiu sair para a liberdade sem nenhum ódio das pessoas que o aprisionaram, o torturaram. Isso é uma dádiva de Deus, que só é concedida a seres humanos superiores. E o Pepe Mujica é um ser humano superior”, declarou Lula.
Leia também
Segundo informações do jornal local El Observador, a despedida, que terminaria às 15h desta quinta, teve o horário alterado para as 17h (horário de Brasília e de Montevidéu).
Nos últimos dias, o presidente brasileiro cumpriu agendas na Rússia e na China e retornou a Brasília (DF) nesta madrugada.
Lula também citou o respeito e a iração pelo amigo. “Uma pessoa que poucas no mundo têm a similaridade, competência política, a capacidade de falar com, sobretudo, a juventude, como Pepe Mujica. Eu conheci na minha vida muitos políticos, muita gente que eu gosto, mas o Pepe era aquela figura especial, mais carinhosa, que eu aprendi a respeitar, irar e a seguir cada o que o Pepe dava depois que ele assumiu a presidência do Uruguai. Eu não poderia deixar de vir me despedir dele e da esposa dele [Lucía Topolansky], que, tanto quanto Pepe, é uma figura irável”, acrescentou o brasileiro.
“Não queria que o Pepe fosse cremado sem que eu pudesse me despedir. Foram muitas horas de voo até aqui, para prestar uma homenagem a um político que não respeito apenas como politico. Pepe Mujica é mais que isso, é um ser humano muito, muito especial”, completou Lula.
Estão na comitiva do brasileiro o ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo; o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante; o presidente nacional do PT, senador Humberto Costa (PE); e os deputados federais Guilherme Boulos (Psol-SP) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
A relação entre Lula e Mujica é antiga e marcada por amizade e iração mútua. Em entrevista coletiva à imprensa na China após a morte do ex-presidente, o brasileiro fez elogios ao amigo.
“O Pepe Mujica era um ser humano muito, muito importante para a democracia, para os setores progressistas da sociedade, para a esquerda, porque eu acho que se ele não tivesse nascido, precisaria nascer outra vez, para que a gente tivesse um exemplo de ser humano com muita dignidade, com muito respeito, com muita solidariedade e com muita coragem”, destacou.
O corpo de Mujica é velado com honras de Estado e será cremado, com as cinzas depositadas na chácara dele em Rincón del Cerro, ao lado do túmulo da cadela Manuela, animal de estimação de Mujica que morreu em 2018 aos 22 anos.
Ao confirmar a ida à cerimônia, Lula afirmou que “o mínimo que a gente tem que fazer é se despedir das pessoas que serviram de referência para a gente, com demonstração de muita dignidade e de muito respeito”.
“Eu conheço muita gente, eu conheço muitos presidentes, eu conheço muitos políticos, mas nenhum se iguala à grandeza da alma do Pepe Mujica. Ele era, efetivamente, uma figura excepcional”, destacou.
Trajetória
Mujica governou o Uruguai entre 2010 e 2015 e ficou internacionalmente conhecido por seu estilo de vida austero — morava em uma chácara modesta, dirigia um Fusca e doava a maior parte do salário — e por reformas progressistas, como a legalização da maconha, do aborto e da possibilidade de adoção por casais homoafetivos.
Na juventude, ele foi guerrilheiro no Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, preso e feito refém durante a ditadura militar no Uruguai — que durou de 1973 a 1985.
Mujica foi agraciado no ano ado com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, mais alta condecoração oferecida pelo chefe de Estado brasileiro a cidadãos estrangeiros.
Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp