‘Exposição preocupava bastante’, diz ex-assessor de Torres sobre live questionando urnas
Antonio Ramiro Lourenzo detalhou estratégias e disse que, em primeiro momento, ex-ministro considerou não participar
Brasília|Gabriela Coelho e Victoria Lacerda, do R7, em Brasília

Antonio Ramiro Lourenzo, ex-chefe de gabinete e depois secretário-executivo do Ministério da Justiça durante a gestão de Anderson Torres, afirmou nesta quarta-feira (28) que a exposição de Torres durante uma live questionando o sistema eleitoral “preocupava bastante”. Lourenzo também disse que o então ministro considerou, inclusive, não participar da transmissão e detalhou as estratégias traçadas para neutralizar “viés político”.
“Eu tive participação direta nesse assunto”, disse Lourenzo durante depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal). “Não havia indícios de problemas e a exposição do ministro nessa live nos preocupava bastante”, completou.
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Lourenzo foi uma das testemunhas de defesa de Torres na ação sobre o planejamento de um golpe de Estado. Durante o depoimento, o ex-assessor detalhou como foram as conversas com Torres que antecederam a live.
“A gente conversou bastante sobre essa live. Imaginamos um cenário com três ações: a primeira seria que ela não fosse feita dentro do Ministério da Justiça; a segunda, que ele [Torres] particie só como expositor, sem caráter institucional; e a terceira, que fosse apresentado um conteúdo técnico, algo neutro, sem viés político.”
“A orientação era buscar um material técnico, e o conteúdo usado foi elaborado por peritos da Polícia Federal. Ele apenas leu o que estava ali”, completou Lourenzo.
Negativa sobre plano de golpe
Durante o depoimento, Lourenzo também negou que tenha existido qualquer plano para favorecer candidatos ou interferir nas eleições de 2022. Ele disse, ainda, que a atuação do ministério durante as eleições se limitava a combater crimes eleitorais, como a compra de votos, e que esse esforço era neutro em relação aos candidatos:
“Eu falo assim: a operação é contra crime eleitoral. Então, senhores, nós apreendemos, por exemplo, um sapato, uma bolsa cheia de dinheiro, de santinhos — seja do candidato A ou do candidato B — é para apreender na hora. A operação é contra crime eleitoral, contra desvios, seja para o candidato A ou para o candidato B.”
Segundo ele, a ideia era gerar impacto preventivo nas ruas, mesmo que não houvesse prisões imediatas:
“Esse é um exemplo que ele falava repetidamente. O ponto que ele dizia era: a operação contra desvios tem que ter resultados, com prisões, efetivamente. Mas a gente quer também fazer uma distribuição.”
“Então, a operação tem que ser extensiva. Porque, se não for, alguém que não é federal, que é de fora, que vê aquela confusão, vai achar que tem viés.”
Ele também relatou o que teria ouvido de Carlinhos, servidor da pasta, sobre a percepção da população:
“O Carlinhos falava assim: se tiver alguém distribuindo água, ou dinheiro, mesmo que seja para fazer um lanche na praça da cidade, e vê a viatura da Polícia Federal, ele vai achar que aquilo é para ele, e vai se assustar.”
“Se ele não estiver comprando voto, beleza. Mas, se estiver, a ação da polícia vai assustar e coibir. Então esses dois exemplos ele dava recorrentemente, com o objetivo de combater ações irregulares nas eleições — mesmo que não resultassem diretamente em prisões, mas como uma forma de inibir.”
Questionado sobre trechos do processo que apontam uma suposta reunião em 19 de outubro de 2022 com intuito golpista, Lourenzo refutou qualquer desvio de finalidade: “Nunca houve endereçamento, manobra ou ação pontual para um candidato, ou para outro.”
Na época da reunião citada, Antonio Ramiro Lourenzo já era o número dois do Ministério da Justiça. Ele ocupou a função de secretário-executivo entre abril de 2022 e o fim do governo Bolsonaro.
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