Em delação, Mauro Cid diz que grupo ‘radical’ tentava convencer Bolsonaro de golpe
Segundo o Cid, ele presenciou reuniões em novembro de 2022 em que foi apresentado um documento com ‘considerandos’

Em delação, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, citou, na tentativa de golpe de Estado a existência de um grupo de pessoas denominado “radicais” que tentaram convencer o então presidente da República Jair Bolsonaro a executar um golpe de Estado.
Segundo o depoimento de Cid, ele presenciou reuniões em novembro de 2022 entre Felipe Martins, ex-assessor internacional do ex-presidente em que foi apresentado um documento com várias páginas de “considerandos”, que retratava as interferências do Poder Judiciário no Poder Executivo e no final era um decreto que determinava a prisões de várias pessoas.
Entre elas, os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além de outras autoridades que de alguma forma se opunham ideologicamente ao ex-presidente.
“Além disso, o documento decretava novas eleições devido a fraudes que teriam ocorrido no pleito de 2022. Jair Bolsonaro recebeu o documento, leu e alterou as ordens, mantendo apenas a prisão de Alexandre de Moraes e a realização de novas eleições”.
Comandante da Marinha
O colaborador afirmou que almirante Garnier, comandante da Marinha, era favorável a uma intervenção militar, afirmando que a força estava pronta para agir, aguardando apenas a ordem do ex-presidente.
“No entanto, os comandantes do Exército e da Aeronáutica refutaram tal ideia, frustrando a ideia de execução de um Golpe de Estado”.
Segundo a defesa de Bolsonaro, ele “jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam”.
Mais cedo, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal) tirou o sigilo da delação premiada feita em 2024 pelo tenente-coronel. Na mesma decisão, Moraes abriu prazo de 15 dias para que os 34 denunciados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) apresentem suas defesas por escrito.
Na terça-feira (18), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresentou ao STF denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por suposto envolvimento em um plano de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Análise da denúncia
Agora, o ministro Alexandre de Moraes vai analisar a denúncia. Segundo a defesa de Bolsonaro, ele “jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam”.
Bolsonaro foi denunciado pelos seguintes crimes:
- Liderar organização criminosa armada;
- Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- Golpe de Estado;
- Dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima;
- Deterioração de patrimônio tombado.
As regras de concurso de pessoas e concurso material também são observadas nas imputações.
A apresentação da denúncia significa que a PGR encontrou indícios suficientes para formalmente acusar uma pessoa de ter cometido um crime. Ainda não há condenação para os envolvidos.
Ao todo, 34 pessoas foram denunciadas acusadas de estimular e realizar atos contra os Três Poderes e contra o Estado Democrático de Direito. Os fatos foram divididos em cinco peças acusatórias.
O que diz a defesa de Bolsonaro
A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que recebeu com “estarrecimento e indignação” a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) por uma suposta tentativa de golpe de Estado.
Os advogados do ex-presidente chamaram a denúncia de uma “narrativa fantasiosa” baseada em um “delator que questiona a sua própria voluntariedade”, em referência a delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
“A inepta denúncia chega ao cúmulo de lhe atribuir participação em planos contraditórios entre si e baseada numa única delação premiada, diversas vezes alteradas, por um delator que questiona a sua própria voluntariedade. Não por acaso ele mudou sua versão por inúmeras vezes para construir uma narrativa fantasiosa”, diz a defesa.
A nota diz que Bolsonaro “jamais” planejou um golpe de Estado. “O Presidente jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam”, afirma.