Do cerrado para o mundo: bioeconomia alavanca venda de baru para mercado estrangeiro
Castanha típica do bioma é destaque em cooperativa que atua com economia sustentável
Brasília|Do R7

O baru é um fruto nativo do cerrado, castanho, com uma única amêndoa comestível. A leguminosa, que não a de oito centímetros, vem ganhando destaque no mundo e chega a ser chamada de “castanha de ouro do cerrado”.
O fruto é rico em antioxidantes, vitamina E, zinco, ferro e potássio e, no ano ado, foi exportado para Dubai, Canadá e Estados Unidos.
Em 2024, por exemplo, a Copabase (Cooperativa Regional de Base na Agricultura Familiar e Extrativismo) conseguiu faturar R$ 1,8 milhão com a castanha.
Em comparação com 2022, o fruto teve um crescimento de 22% entre os produtores da região. Ao todo, a produção chegou a 14,69 toneladas.
Quem trabalha com o produto é Dionete Figueiredo, gerente-executiva da Copabase e moradora de Arinos, em Minas Gerais.
Filha de agricultores familiares, Dionete conta que se envolveu desde muito cedo com as reuniões das associações rurais e com a comunidade em que morava.
“A associação foi fundada visando correr atrás de recursos, de apoio para fortalecer a comunidade rural, e aí eu já comecei a fazer parte, porque a minha família toda participava e precisava de alguém para redigir as atas. Assim, eu comecei a me envolver com o associativismo. Isso ainda em meados de 2000”, lembra.
Além do baru
Dionete conta que, na época, a região ou por uma seleção do Sebrae para trabalhar com cadeias produtivas.
“Por conta desse trabalho, a região ou por um mapeamento de potenciais cadeias produtivas que poderiam ser trabalhadas e fortalecidas, para quem sabe um dia gerar trabalho e renda a partir delas”, relata.
Entre essas cadeias apoiadas após 2008, com a criação da Copabase, estão produtos ligados ao extrativismo, com destaque para o baru, mas também frutas como maracujá, goiaba e acerola.
O portfólio do grupo também inclui temperos como açafrão e urucum, além de alimentos como farinha de mandioca e rapadura.
Para ela, apesar da expansão do mercado do baru, ainda há diversos desafios, como o desinteresse coletivo em comunidades tradicionais e entre agricultores familiares — povos que, segundo ela, “sempre estiveram esquecidos e sem oportunidades”.
“[Essas pessoas] São carentes de assessoria, de oportunidades, de o às políticas públicas, insumos, crédito e tecnologia”, observa.

Dionete ressalta que é preciso que os investimentos e protocolos sejam adaptados à realidade de cada produto.
“No entanto, ao ver os desafios, também vemos as oportunidades: oportunidades de criar novos produtos, novos processos, novos mercados, novas tecnologias, novos espaços de desenvolvimento”, sugere.
Ela defende que o impacto do trabalho com a sociobiodiversidade vai além do econômico.
"É uma oportunidade de manter o cerrado em pé, propagar e conservar as espécies nativas, promover a cultura alimentar, as tradições locais, valorizar os saberes regionais, incluir pessoas em prol de um interesse coletivo, incluir mulheres e jovens nas atividades de produção, indústria e gestão”, explica.
Dificuldades de consumo no mercado interno
Outro grupo que atua no cerrado é a Funatura (Fundação Pró-Natureza). Pedro Bruzzi, superintendente executivo da fundação, explica que ela está presente no bioma há 40 anos.
“Fomos a primeira ONG ambientalista aqui em Brasília, no Planalto Central, e temos uma atuação histórica na criação de unidades de conservação, conservação em áreas privadas e reservas particulares do patrimônio natural”, afirma.

Ele cita algumas das cadeias mais representativas do cerrado, como “o buriti, o pequi, a fava e o baru”.
Apesar disso, ele reconhece que o principal desafio, sob diferentes perspectivas, é que a população conhece pouco esses produtos.
“Eles são demandados no mercado exterior, mas pouco conhecidos no mercado interno. Como o baru, uma castanha do cerrado extremamente nutritiva, considerada um superalimento, sendo pouco consumida internamente”, aponta.
E cita frutos como a cagaita e o araticum, pouco conhecidos e consumidos.
“A isso se soma o pouco apoio às comunidades que trabalham com essas cadeias, tanto em termos de incentivo quanto de assistência técnica”, acrescenta.
Para ele, é necessário ampliar o crédito rural para pequenos empreendedores e agricultores familiares.
“Para a cadeia de grãos, como soja, feijão e arroz, o crédito está bem estruturado. Mas, para os produtos do cerrado, não temos grandes incentivos”, lamenta.
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