‘Careca do INSS’ usou empresa em paraíso fiscal para comprar R$ 11 milhões em imóveis, diz PF
Investigações mostraram que lobista registrou empresas com o mesmo endereço e telefone
Brasília|Rafaela Soares, do R7, em Brasília

As investigações da PF (Polícia Federal) indicam que Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, usou uma empresa registrada nas Ilhas Virgens Britânicas — consideradas paraíso fiscal — para adquirir quatro imóveis em São Paulo (SP) e Brasília (DF). Além disso, o lobista teria alterado as declarações de renda mensal, que aram de pouco mais de R$ 24 mil para até R$ 35 mil.
Para os investigadores, as movimentações financeiras de Antônio seriam muito superiores à renda declarada, totalizando milhões de reais em créditos e débitos. “As participações societárias e a capacidade financeira declarada são desproporcionais às quantias movimentadas”, afirmou a PF.
O relatório também mostrou que o patrimônio do lobista teve um acréscimo de R$ 14 milhões entre abril e julho de 2024. Antônio é peça central na investigação sobre supostas fraudes contra aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Ainda segundo a Polícia Federal, o rombo causado pelos desvios pode superar R$ 6 bilhões. O R7 tenta contato com a defesa de Antônio Carlos.
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Suposta fraude no INSS
As movimentações de Antônio e familiares também são destaque no relatório. Segundo o documento, uma instituição financeira informou que o “Careca do INSS” teve uma movimentação total de R$ 4,2 milhões entre outubro de 2023 e dezembro do mesmo ano, o que foi considerado atípico. Em soma, Antunes teria movimentado, em 150 dias, R$ 12,2 milhões em três instituições.
“[Antônio] realizava rees no mesmo dia do recebimento, mantendo saldo pouco significativo disponível em conta, indicando possível urgência em dificultar o rastreamento dos valores”, afirmou o documento.
Além disso, os policiais federais descobriram que ao menos quatro empresas ligadas a Antônio “operaram como intermediárias financeiras para as entidades associativas e, em razão disso, receberam recursos de diversas associações que, em parte, foram destinados a servidores do INSS.”
Outro ponto que chamou atenção dos investigadores é que todas as instituições compartilhavam o mesmo endereço, telefone e o mesmo valor de capital social.
Veja o que foi apreendido na operação que inevestiga suposta fraudes no INSS
Entenda
A operação da PF e da CGU foi deflagrada na última terça (22) e cumpriu 211 mandados judiciais, incluindo ordens de busca e apreensão, sequestro de bens, avaliados em mais de R$ 1 bilhão, e seis mandados de prisão temporária. As investigações apuram um esquema nacional de cobranças indevidas em benefícios do INSS.
Conforme as apurações, aposentados e pensionistas foram alvo de descontos não autorizados de mensalidades associativas, aplicados diretamente sobre os valores de aposentadorias e pensões. O prejuízo estimado chega a R$ 6,3 bilhões, acumulados entre os anos de 2019 e 2024. Ao menos 11 entidades são suspeitas.
Ainda não se sabe quanto desse valor foi indevidamente descontado e quanto tinha autorização dos beneficiários. Os investigados poderão responder por corrupção ativa e iva, violação de sigilo funcional, falsificação de documentos, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Desdobramentos
A apuração das autoridades levou à demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e ao afastamento de servidores.
Dois dias depois da operação, representantes do INSS e da CGU informaram a suspensão dos descontos na folha de pagamento de aposentados e pensionistas por convênios com entidades, como associações e sindicatos. A pausa é por tempo indeterminado, até a conclusão da análise de cada acordo, para a identificação dos descontos irregulares.
Segundo o ministro da CGU, Vinicius de Carvalho, para reorganizar o sistema de desconto e torná-lo mais rígido e seguro, é necessária a suspensão de todos os acordos de cooperação técnica vigentes, celebrados pelo INSS com entidades nos últimos anos.
“O governo vai ressarcir o que foi descontado irregularmente. Isso estará em um plano que será apresentado em breve”, declarou Carvalho.
O ministro não informou, no entanto, quando nem como esse ressarcimento será feito. Segundo Carvalho, o governo federal elabora um plano para identificar os descontos fraudados e permitir as devoluções.
O planejamento, que deve ser apresentado “em breve”, como afirmou o ministro, vai detalhar o total dos valores que serão ressarcidos e o formato das reposições.
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